Resumen
A O Centro de Tecelagem Fios do Cerrado / Associação das Tecedeiras de Uberlândia construiu ao longo das décadas uma trajetória singular. Sua origem não tem um marco oficial, mas um encontro: o contato entre o saber popular de fiandeiras locais e a visão estética do artista têxtil Edmar José de Almeida.
Nascida da terra vermelha do Triângulo Mineiro e alimentada pelas mãos de mulheres fiandeiras, a Associação das Tecedeiras de Uberlândia construiu ao longo das décadas uma trajetória singular. Sua origem não tem um marco oficial, mas um encontro: o contato entre o saber popular de fiandeiras locais e a visão estética do artista têxtil Edmar José de Almeida, nascido em Araxá em 1944.
Biografía
Fios do Cerrado: um corpo coletivo
Nascida da terra vermelha do Triângulo Mineiro e alimentada pelas mãos de mulheres fiandeiras, a Associação das Tecedeiras de Uberlândia construiu ao longo das décadas uma trajetória singular. Sua origem não tem um marco oficial, mas um encontro: o contato entre o saber popular de fiandeiras locais e a visão estética do artista têxtil Edmar José de Almeida, nascido em Araxá em 1944.
Foi nos anos 1970 que essa união ganhou corpo. Edmar, então já envolvido com arte têxtil e experimentações materiais, reconheceu nas técnicas e ritmos das mulheres tecedeiras algo mais profundo do que simples artesanato: um gesto ancestral de construção de mundo. Desse reconhecimento nasceu uma parceria orgânica, que não apagou as vozes locais, mas as amplificou.
Em 1975 essa relação se consagrou com a exposição “Repassos – Edmar e as tecedeiras do Triângulo Mineiro”, realizada no MASP, com curadoria de Lina Bo Bardi e Flávio Império. Foi a primeira vez que aquelas tramas rurais pisaram no espaço branco dos museus de arte. Receberam o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte como melhor exposição daquele ano.
O grupo amadureceu, evoluiu e ganhou novo nome — passou a ser chamado de Fios do Cerrado, nome que hoje identifica o Centro de Fiação e Tecelagem de Uberlândia. Nesse centro, estabelecido formalmente a partir de 1992 como microunidade produtiva. Tecelãs e artistas trabalham juntos.
As mulheres continuam a girar as rodas da memória, montar teares manuais, fiar saberes que escapam à pressa do mundo contemporâneo. Edmar de Almeida segue presente, não como autor, mas como ouvinte e parceiro. Suas contribuições estéticas se misturam à tradição das mãos que sabem fazer.
O que nasceu como uma parceria pontual se transformou em um corpo coletivo, com identidade própria. Os Fios do Cerrado não são apenas um centro de produção têxtil — são um organismo cultural vivo, onde se entrelaçam tempo, comunidade e criação.