A história da Girafa e da Frei Egídio

Todo mundo sabe que as cadeiras Girafa e Frei Egídio foram criadas na Marcenaria Baraúna junto à Lina Bo Bardi, mas pouca gente sabe a história de como foram desenvolvidas, então vamos falar um pouquinho delas!
A Marcenaria Baraúna foi fundada em 1986 pelos arquitetos Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, já associados no escritório Brasil Arquitetura desde 1981. Paralelamente, Ferraz vinham trabalhando com Lina Bo Bardi no projeto para o SESC Pompeia, onde começara o contato mais aproximado deles com a movelaria. Não à toa, o primeiro encarregado da Baraúna foi o próprio marceneiro chefe das obras do SESC, que terminava naquele mesmo ano.
Logo na sequência, Ferraz e Suzuki uniram-se à Lina para trabalhar em uma série de projetos em Salvador, alguns dos quais precisariam ser mobiliados, como o restaurante da Casa do Benin e o Teatro Gregório de Mattos. Frustrados com o que viam no mercado e tendo a nova marcenaria à disposição, a equipe resolveu desenvolver algumas peças por conta própria, sendo que o primeiro esforço começou com uma inspiração nada tropical: Alvar Aalto e os móveis para o sanatório de Paimio, na Finlândia, edificado nos anos 1930. Para o solo baiano, repensaram a o banquinho de três pés de outro modo e com novo significado. A Girafa, como viria a ser batizada em reunião com a delegação do Benin, logo se desdobrou em bancos, mesas, bancos de bar e bordadeiras, a partir dos inúmeros protótipos criados na Marcenaria Baraúna.

Ministro do turismo do Benim na Casa de Vidro com cadeira Girafa (residência de Lina e P. M. Bardi), 1988.
Já a cadeira Frei Egídio foi desenvolvida para equipar o teatro, de forma que deveria ser leve e facilmente transportável. Para tal, tomaram como exemplo as cadeiras dobráveis do renascimento italiano que a equipe usava quando trabalhava na Casa de Vidro e, estudando como modernizar seu desenho, as várias ripas do modelo clássico foram sintetizadas em três fileiras de tábuas. O nome veio por Lina, em homenagem ao frade que a convidara para projetar a Igreja do Espírito Santo do Cerrado, em Uberlândia, na década anterior.

Protótipos da cadeira Frei Egídio na Marcenaria Baraúna.
Mais do que finlandesas ou italianas, estas cadeiras são de um minimalismo tal que dialogam até com a produção japonesa, mas têm acima de tudo raízes profundamente brasileiras, por seus materiais, usos, e uma ideia de “conforto duro”, pauta central na carreira dos três arquitetos e potencializada em suas experiências de trabalho conjuntas.