Lina Bo Bardi e Baraúna
Em busca de um mundo novo
Em 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a arquiteta Lina Bo Bardi deixa a Itália e muda-se para o Brasil. Ávida por colocar em prática todo seu talento reprimido pelos anos de conflito - nos quais, segundo ela, "nada se construía, só se destruía" - aqui encontra um ambiente fértil em várias áreas do conhecimento e da criação, sobretudo na arquitetura e no design. Lina se engaja nesse movimento com a farta bagagem cultural adquirida em sua formação italiana, aberta a tudo que via e percebia da vida brasileira.
O contato de Lina com a cultura popular nos anos em que viveu na Bahia (1958 a 1963) reafirmou seus ideais modernos, mas a afastou definitivamente dos rumos que a produção da época tinha tomado. Ela considerava que o “industrial design” estava cada vez mais ligado ao modelo ocidental, europeu/americano. Em conexão com a formação cultural brasileira, ela afirma: “O Brasil é mais África e oriente do que ocidente. E Portugal não é meramente Europa, é um país atlântico”. Na Bahia, Lina cria e instala o Museu de Arte Moderna no foyer do Teatro Castro Alves, recém-desmontado por um incêndio. Transforma provisoriamente a rampa de acesso à plateia em um auditório, e para este projeta a poltrona “Sertaneja”.
Lina só voltaria ao desenho de móveis no contexto do projeto do SESC Pompeia (1977-1982). Pensando em um mobiliário aplicado à arquitetura, ela retoma sua prática de trabalho na Bahia e monta uma marcenaria no canteiro de obras, onde produz todas as peças que hoje habitam o conjunto, dos sofás de descanso às cadeiras do restaurante. A experiência do SESC Pompeia foi fundamental na criação da Marcenaria Baraúna (1986). Encorajados e incentivados por Lina, Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki – sócios do escritório Brasil Arquitetura –, fundam a Baraúna e passam a produzir mobiliário a partir dos princípios trilhados pela arquiteta: tendo por fundamento a arquitetura e a cultura brasileiras. O desenvolvimento das cadeiras Girafa e Frei Egídio, no contexto do projeto de recuperação do Centro Histórico de Salvador – levado a cabo por Lina, Ferraz e Suzuki – consolida a parceria da Baraúna com Lina.
A Baraúna apresenta a reedição exclusiva dos móveis de Lina que vão desde a “Poltrona Sertaneja” até o mobiliário do Sesc Pompeia. O período de maturidade de uma obra que aliava rigor arquitetônico à riqueza do fazer popular e da cultura Brasileira.